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:: Sair das Trevas....




Em busca da felicidadeRobert Downey Jr.venceu os demónios que em tempos o perseguiram. Agora está em paz

Durante muitos anos, Robert Downey Jr. foi objecto de pena e de troça como um homem em constante reabilitação e reincidência numa vida de drogas e devassidão. Mas uma pesada pena de
prisão e o amor de uma mulher trouxeram-no de volta a coisas maiores da vida e ao trabalho.
O sucesso de Homem de Ferro, a primeira aventura de Downey
no campo dos êxitos de bilheteira de Verão, valeu-lhe de novo as boas graças de Hollywood. Agora, com um outro sucesso a estrear,
a comédia Tropic Thunder, o talentoso actor provou a si próprio
ser capaz de dominar ainda um outro género de filme. Será que Robert Downey Jr. encontrou finalmente o seu lugar ao sol?
“Sinto que escapei ao mundo das drogas e que construí para mim uma vida nova e radiosa”, diz, com ar sonhador.
“Há cinco ou seis anos, apercebi-me da iminência do perigo.
Sabia que a festa tinha acabado. Estava na hora de eu sair das
trevas e encarar a realidade.”“A minha história com as drogas era um caso de usar toda e qualquer racionalização para justificar o facto de não estar a viver com verdade.
Mas apaixonei-me por uma bela mulher e ela salvou-me.”Na verdade, o casamento de Downey com a produtora Susan Levin revelou--se um passo vital para que o talentoso actor se mantivesse limpo e sóbrio nos últimos anos, permitindo-lhe cumprir a extraordinária promessa que ele se revelara ser no início da sua carreira com papéis em filmes como Less Than Zero (Menos que Zero) e Chaplin, tendo-lhe este último valido, em 1992, uma nomeação para um Óscar.
Só que depois disso, Downey foi apanhado nas malhas das
drogas e do álcool numa espiral que o levou a ser detido por conduzir nu o seu Porsche, acordando depois em casa do vizinho, depois de uma noite de excessos alimentada a heroína, e acabando por ser condenado a um ano de prisão por violação das regras de liberdade condicional da sua enésima condenação por posse de droga.Todavia, desde 2003 que este rapaz mal comportado de Hollywood encontrou uma nova forma de viver, rodeando-se de personal trainers e de terapeutas, tendo ganho uma nova perspectiva e um novo objectivo na vida ao lado da sua segunda mulher, Susan Levin.

“Fiz algo que a maior parte das pessoas pensava que eu nunca faria. Tornei-me o super-herói de um filme de acção!”
Em cima, em Zodiac. Ao baixo, em Homem de Ferro, e em Tempestade Tropical.

Este parece estar a ser um excelente ano para si.
Está confiante que a sua vida está a correr como pretende?
No meu caso, renasci das cinzas porque, em determinada altura, comecei a acreditar na possibilidade de vencer coisas
aparentemente impossíveis.
Mas eu não sou nenhum modelo de bom comportamento e recuperação para Hollywood. Sou apenas um tipo que sabe que
tem muito por que estar grato… Tenho também plena consciência
de que é um processo que nunca estará concluído.
De que forma a sua mulher, Susan Levin, o ajudou no seu processo de recuperação?
Bem, nós somos uma dupla, está a ver? Estamos apaixonados um pelo outro, estamos casados e cuidamos um do outro. A minha cultura é bastante incompleta e ela lida com isso com toda a paciência. É o tipo de mulher que sempre tem uma boa noção do mundo. Depois vem a minha história. Nós completamo-nos.
Ela diz-me sem rodeios: “Sabes, uma coisa que a maior parte das pessoas não compreende é que em cada relação só pode haver uma estrela rock. Felizmente, eu não quero ser uma estrela rock.
” Isso também ajuda. O amor é uma coisa séria e na nossa relação
o que nós pensamos é: “Pronto, fico-me por aqui, esta é para toda a vida.” Isso quer também dizer que é para a morte e nenhum de nós quer que este sentimento se dissipe. Na luta com a dependência, quando é que sentiu que tinha finalmente dobrado a esquina?Primeiro ponto, essa esquina é interminável… Mas as coisas começaram a mudar quando conheci a companheira da minha
vida, a Sr.ª Downey [Susan Levin]. Ela disse-me:
“Não vou dançar esta dança das drogas contigo. Vou estabelecer
um limite.” Ela foi muito clara. Não quer dizer que outras
mulheres, parceiros de negócio, realizadores de cinema,
companhias de seguro, juízes e agentes da lei não tenham também sido bastante claros quanto a isso! [Ri] O facto é que antes de conhecer a Susan, eu, pura e simplesmente, não ligava nenhuma.
Ela disse: “Vamos construir uma relação que funcione e que perdure.” Eu acreditei nela. E fomos arrebatados nessa promessa. O estrondoso êxito de Homem de Ferro voltou a colocá-lo na lista A.
É agradável essa posição?Já estava cansado de me fartar de trabalhar em filmes que ninguém vê. Agora fiz algo que a maior
parte das pessoas pensava que eu nunca faria. Tornei-me o super-herói protagonista de um filme de acção! Fui atrás do Homem de Ferro porque o Keanu Reeves ficou com o Matrix e o Johnny Depp com o Piratas das Caraíbas. Estava a olhar para os três cartazes dos filmes que vi com o meu filho e pensei: “Bolas! Eu era capaz de fazer isto!”Aparece também num outro grande filme, Tempestade Tropical, onde surge com a cara preta porque a sua personagem é um actor de método que tinge a cara para parecer um negro.
O que é que o levou a aceitar fazer este tipo de comédia?
Achei que era um filme que Peter Sellers talvez tivesse experimentado. O que acontece com Tempestade Tropical é
que é uma tremenda confusão.
E eu não estou a representar o papel de um preto. A minha personagem é um actor de método australiano que representa
o papel de um preto que mandou mudar a cor da pele em
Singapura. Quando as pessoas ultrapassarem de facto as duas primeiras
sílabas dos seus próprios comentários e prestarem atenção à história vão adorar. É uma paródia à elite cultural de Hollywood, sobre actores que pensam que estão a fazer aquele importantíssimo filme sobre o Vietname, apesar de serem todos uns idiotas.
Não há no filme nenhuma personagem cuja inteligência seja digna de nota!
Para além da enorme aclamação e do sucesso financeiro de Homem de Ferro, acha que estes filmes vão fazer com que as pessoas esqueçam o lado obscuro do seu passado?Ó homem, isso já foi no século passado. Felizmente, Homem de Ferro é um acontecimento suficientemente excitante para a maior parte das pessoas e como
que eclipsa aquilo de que todos os jornalistas querem falar, que
é as cinco coisas mais estúpidas ou os cinco momentos mais deprimentes da minha vida. Devia haver uma lei internacional
que o impedisse, porque é mesquinho e fútil e a maior parte das pessoas é muito mais interessante do que apenas os seus pontos mais obscuros.O que é que acha de os meios de comunicação social estarem hoje tão centrados nas acções condenáveis das celebridades?É um processo de investigação para o inconsciente colectivo. É como se certas coisas um bocado estranhas se tivessem tornado um elixir para consumo público. Essa ideia de reverência que se tinha dantes para com as estrelas de cinema. Costumava acontecer que, se nos metíamos em sarilhos, a coisa era abafada, porque nós éramos a realeza. E essa realeza baseava-se em algo
que representávamos para as pessoas, e num serviço que prestávamos e que era, de algum modo, de grande importância. Agora, no que diz respeito à grande importância da celebridade, é muito óbvio que já não precisa basear-se em mérito…
Isto é um sacana de um mundo carnívoro, assustador. [Ri]
“Talvez o objectivo deva ser uma vida que valorize a honra, o dever, um bom trabalho, os amigos e a família...”

Depois dos anos de excessos, Robert Downey Jr. consegue agora manter a distância entre o mundo do cinema e a vida real.
Amigos seus, como o Sean Penn e a Jodie Foster, tentaram ajudá-lo. Sente que o seu sucesso hoje é uma forma de validar a fé que eles tinham em si quando você próprio não a tinha?
Em relação a isso ainda há muitos pratos a girar, porque tem a ver com uma série de outras coisas mais importantes sobre autoconfiança e confiança em Deus. Mas eu deixo-os continuar a girar porque não sei qual deles é que vai lixar tudo quando cair ao chão. A Jodie Foster mandou--me recentemente um e-mail em que falava em como eu devia desfrutar desta parte da jornada
– mas que não devia trabalhar tanto que me impedisse de
apreciar o ponto a que tinha chegado! Portanto, tenho de ter
mais fé no mundo, no meu trabalho, na minha condição de pai e na minha feroz fidelidade no casamento. Já não há nenhuma razão
para que alguma coisa me chateie. Nada muito importante, nada
que se compare àquilo por que já passei. Portanto, agora sei o que fazer. Como é que reage às pressões de ser transformado num mito, como já foi no passado e voltou a ser agora?Relativamente às pressões de ser um mito, devo dizer-lhe que me tornei mais Harrison Ford em relação a tudo isso. Distingo a minha vida da minha carreira. Sei como foi pouco saudável a minha auto-estima e o meu desejo de ser o centro das atenções.
A sua carreira descolou cedo e teve um romance famoso com Sarah Jessica Parker. Como é que hoje vê essa relação?
Nessa época tinha muito aquela atitude de pós-adolescente, pseudo-niilista, punk-rock rebelde. Achava-me muito mais fixe do que as pessoas que estavam realmente a construir as suas vidas e as suas carreiras. Gostava de beber e tinha um problema de drogas, e isso não condiz com a Sarah Jessica, porque ela não tem mais nada a ver com essa onda. Tentou ajudar-me.
Ficou superchateada porque eu não arrepiei caminho e não a censuro por isso. Eu estava a ganhar imenso dinheiro, mas era caprichoso e irresponsavelmente indisciplinado e, a maior parte
das vezes, estava alegremente anestesiado.Apesar de todos os problemas que tiveram, ainda viveram juntos durante sete anos… [Separaram-se em 1991]Eu estava muito apaixonado pela Sarah
mas, claramente, o amor não bastava. Eu tinha de me ir embora.
E depois de algum desgosto, ela formou finalmente o seu lar com uma grande estrela. Matthew [Broderick] é muito mais dotado e terra--a-terra do que eu alguma vez fui. Teve uma outra relação séria, com a modelo Deborah Falconer, de quem tem um filho
[Indio, agora com 14 anos]…O casamento e ter um filho foi provavelmente o que me impediu de descarrilar completamente. Mas não foi o suficiente para endireitar o barco. No entanto, o produto desse tempo que passámos juntos é um filho incrivelmente dotado. Como pai, acho que o meu trabalho é fazer o que está certo
– prepará-lo para o que está ao virar da esquina na vida.O que é
que acha que está ao virar da esquina na sua vida?
Para mim, trata-se de assentar os pés na terra e viver o dia-a-dia. Estou a aprender o negócio de construir uma vida. Em vez de obter compensação instantânea, ficando pedrado, obtenho o possível
com o meu trabalho e a minha vida. Dantes eu estava convencidíssimo de que o objectivo era a felicidade e, no entanto, durante todos esses anos em que corri atrás dela, era infeliz. Talvez o objectivo deva ser uma vida que valorize a honra, o dever, um bom trabalho, os amigos e a família... Talvez a felicidade venha daí.
Via Revista Máxima