sabato

:: Pensar...


Para muitas pessoas a felicidade é semelhante a uma bola: querem-na de todo jeito e, quando a possuem, dão-lhe um chute.
Mário Glaab

:: Dupla Fezada...


Este Chocolate não engorda e não amarga, mas enfeitiça. É a mais recente aventura de Maria João e Mário Laginha, caminhos cruzados há 25 anos em nome da música. Para variar, vamos ouvi-los falar.

A resposta chega espontânea, escandalizada? “Almas gémeas, nós?! Nada disso, não, nunca: somos, quanto muito, almas complementares… Temos, isso sim, uma funcionalidade de dupla que muitas vezes se confunde com um infinito prazer.” “Nós”, neste caso como nas histórias mais bonitas, são uma
ela e um ele. Ela: Maria João Monteiro Grancha, 52 anos, que, pelos lugares improváveis em que coloca a voz, acabou a dispensar os apelidos. Ele: Mário João Laginha dos Santos,
48 anos, que já gravou no piano e na composição, o primeiro dos nomes próprios e o primeiro dos nomes de família. Ambos lisboetas e capazes de darem a volta ao Mundo por um bom tema. Estão, agora, a cumprir os primeiros concertos de lançamento de um novo disco, Chocolate, que, entre outras missões, assinala os 25 anos – intermitentes – de trabalho conjunto.Tenha em conta quem lê que “dividir para reinar” nem sempre é táctica inimiga. Na circunstância, foram as condicionantes geográficas que obrigaram a conversas – telefónicas – individuais. Maria e Mário acabaram a falar um do outro, como se impunha, com rigor, e como se esperava, com ternura. Ela: “Somos um bom exemplo de uma democracia que funciona. Conhecemo--nos muito bem, repartimos as tarefas – ele faz a música e eu exerço sobre ele a minha influência perniciosa, eu faço as letras e ele não pára de dar opiniões sobre elas – mas temos uma importância igual no resultado.” Nem sempre foi assim. Em 1983, ele era, entre outras actividades, o pianista do Quinteto Maria João, que se estreava em disco com standards (Lover Come Back To Me, Stormy Weather, Anthropology, Blue Moon, Comes Love). Dois anos depois, ela cantava, com palavras de Eugénio de Andrade, a primeira composição que ele lhe reservou: Areias de Laga. Zangaram-se. Além disso, ela optou por fixar cartaz na Alemanha e por se fazer acompanhar, mundo fora, pela pianista japonesa Aki Takase. Reencontraram-se em 1992: ela gravou Sol com o Grupo Cal Viva, de que ele fazia parte. Depois disso, conta ele: “A João telefonou-me a dizer que tinha tido um gozo incrível e que achava que nós devíamos continuar a trabalhar juntos. Ora eu, que me tinha zangado com ela por causa dos atrasos, sentia a mesma coisa – os anos fazem com que uma pessoa cozinhe os sentimentos e as raivas… Aceitei.
E ainda bem.” Em Danças (1994), Maria João assinava e Mário Laginha entrava no featuring. Em Cor (1998), os nomes estão já em paralelo, respondendo à fotografia, a iminência de um beijo. E, sempre que voltaram a gravar juntos, a paridade manteve-se.Abre-se a lista de discordâncias, pacíficas e inocentes, capazes de fazer sobressair as individualidades: quando é que ele, compositor, começou a pensar especificamente nela, cantora? Ela: “Foi um pouco tardio, talvez… Mas no Danças, eu sinto que já era a minha voz que o Mário tinha na cabeça…” Ele: “A João sempre me obrigou a procurar soluções musicais para corresponder à voz dela, que tem uma extensão imensa. Mas esse sentimento de escrever expressamente para um voz só foi por mim assumido no Cor, depois de uma viagem à Índia em que nos tornámos uma verdadeira dupla.” Passados todos estes anos, os espectáculos que fazem – e que “procuram sempre evitar a repetição, mesmo que nem sempre seja possível” – representam o quê um para o outro: a chegada a um porto de abrigo ou um mergulho de alto risco? Ela, intempestiva: “O risco, claro! A aventura é sempre tão boa… Eu gosto de tentar surpreendê-lo, de dar a volta que ele não esteja à espera… Noutras vezes, é ele que puxa por mim. É magnífico. E ‘alto risco’ parece-me uma bela expressão, um óptimo lema para o que fazemos…” Ele, convicto: “São sempre concertos que nos forçam a ter os sentidos alerta e, nessa medida, há algum risco. A João é tão criativa que me obriga a acompanhá-la sempre de formas diferentes. Por outro lado, nós conhecemo-nos tão bem que há sempre uma base mínima de segurança, o tal porto de abrigo. Mesmo quando as coisas não correm como nós sonhámos, o resultado acaba por ser intenso, coeso… Há algumas semanas, em Espanha, saímos de palco e a João tinha acabado de desabafar sobre a noite mais fraquinha – começaram a chegar espectadores, de lágrimas nos olhos, falando de um espectáculo maravilhoso… Nessa medida, temos sempre defesa. Mas gostamos mesmo é da provocação mútua, constante…” Da discussão nasce a luz – os dois concordam que a dupla não sabe, não quer, não pode, chegar a cair na rotina. Até porque têm sempre a hipótese de intervalos sabáticos para corresponder à necessidade de tocar com outras pessoas – depois de gravarem Tralha (2004), Mário continuou as parcerias com Bernardo Sassetti e/ou Pedro Burmester, gravou a solo (Canções e Fugas) e em trio (Espaço), Maria João repetiu a experiência docente da Operação Triunfo (uma das suas actividades como professora, “descoberta tão cansativa como compensadora”), faz workshops de voz e canto (um dos mais recentes foi na Dinamarca), foi convidada especial no disco do guitarrista José Peixoto (Pele), gravou com os austríacos dos Saxofour (Cinco) e ainda teve tempo para um imenso abraço ao Brasil (no notável João). Agora, estão de volta ao T2 (leia-se: talento ao quadrado). A efeméride dá-lhes o pretexto de voltarem aos standards deixados lá atrás. Nada em comum com Undercovers (2002), no entanto: aqui, à mistura com originais próprios, abraça-se o grande songbook americano, com Mingus, Alan Jay Lerner, Ned Washington, Johnny Mercer, Jerome Kern. Jazz. Mas é jazz o que a dupla anda a mostrar há tantos anos? Ela, com o que se adivinha ser um encolher de ombros: “Quero lá saber! Deixo isso para os académicos. A mim interessa-me que seja música feita à nossa maneira… É seguro que está impregnado de jazz, que aposta forte na liberdade do improviso. Depois, acho que é uma música mestiça – mas a base do jazz também é a mestiçagem… Sei lá! Sei que só descobres o teu lugar no mundo quando atinges o ponto de estar como queres, à tua maneira…” Ele, a quem se imagina um gesto reflexivo: “Os rótulos só me preocupam porque ajudam a arrumar os discos nas lojas. Diria que o alicerce principal, pelo que estudámos, pelo que mais amamos, será o jazz. Depois, assumimos as nossas influências – a africana, a brasileira, a popular portuguesa… Posso propor que lhe chamemos jazz étnico português, soa bem e não está mal pensado!” Em Chocolate, a que regressamos, a escolha dos standards coube a Maria João: “Fui eu, sim. Eram canções que, se calhar, tinha deixado pelo caminho mas que se manti-nham por perto. Cada vez me acontece mais, com aquilo que tenho de cantar com os meus alunos… Mas [risos] consegui até ir buscar um tema do Mário que andava escondido ou à espera, o Sweet Suite. O que eu não faço por ele [risos]… Falando a sério, o Mário teve depois um trabalho enorme com os arranjos e, claro, com as composições. É para isso mesmo que serve uma dupla, não?” Por uma vez, olham os dois em direcções opostas. Ela mira o futuro, quando se lhe pergunta “até quando?”, na sequência da enumeração das suas actividades e dos seus envolvimentos, de cansaços e êxtases, que a levam, antes, a uma conclusão singular: “Eu sou um bulldozer! A sério: à exaustão e ao caos também se pode ir buscar algo de bom. Por exemplo, eu descobri a maravilha que é dar aulas. Mas reconheço que tenho uma pedalada nada comum… Por isso, reforma só mesmo por incapacidade (longe vá o agouro). Caso contrário, é para cantar até morrer.” Ele aceita recuar perante a questão concreta: o que sente quando ouve hoje a já citada Areias de Laga, escrita há duas dúzias de anos? “Há alguma nostalgia, reconheço… Mas faz-me pensar se serei hoje melhor ou apenas diferente. Não me saiu mal, tal como outras coisas que fiz há 20 anos. Por isso, concluo que, com todas as transformações que o tempo trouxe, estou apenas diferente. Não tem nada de mal.” Nada mesmo. Parto para a provocação final: peço a cada um a escolha de uma qualidade e de um defeito, em análise ao cúmplice de 25 anos. Ele, repentinamente febril: “A Maria João tem duas qualidades enormes e indissociáveis: por um lado, o maior instinto musical que eu alguma vez presenciei, uma intensidade única para quem não aprendeu música. Por outro, a força como se apodera de um palco sempre que entra. Eu vi-a em concertos com outras pessoas, com o Joe Zawinul [ex-Weather Report, relicário do jazz] – e é ela que brilha. Tem uma chama que nunca se apaga.” Divertido: “Defeito? Ainda e sempre os atrasos… Em 25 anos, gostava de poder contabilizar os anos que passei à espera dela [risos]…” Ela, entusiasmada: “O talento, o enorme talento. Só uma dose assim lhe permite aquela generosidade de se dar, de não estar satisfeito nunca… O defeito, simples: “A casmurrice, mais do que teimosia. Quando quer, ele é um calhau!”
Via Revista Máxima

:: Pensar...



É preciso escolher um caminho que não tenha fim, mas,
ainda assim, caminhar sempre na expectativa de encontrá-lo.
Geraldo Magela

:: Fala-se de Livros...

Jacinto Lucas Pires, Prémio Europa – David Mourão-Ferreira, lança uma colectânea de vinte e dois contos, alguns dos quais inéditos. Com uma sólida carreira de dez anos, ao longo dos quais publicou quatro livros de teatro, cinco livros de ficção e um de viagens, o autor já recebeu inúmeras críticas positivas, em especial pelo seu último livro Perfeitos Milagres.
(Cotovia, 284 pp, € 16.00)
Amantes dos Reis de Portugal, de Maria Paula Marçal Lourenço, Ana Cristina Pereira e Joana Troni
Três mulheres dão voz à história nunca antes contada das amantes dos monarcas portugueses. De damas da rainha, prostitutas, barregãs, negras, escravas, cantoras líricas, actrizes, mulheres do povo a senhoras da alta burguesia, elas escondem histórias de paixões arrebatadoras, filhos ilegítimos e amores ilícitos. D. Afonso Henriques, D. Dinis, D. João V, D. José, D. Pedro IV ou D. Carlos são apenas alguns dos monarcas, cujas aventuras extraconjugais figuram neste livro. (Esfera dos Livros, 380 pp, € 22.00)

Sissi, de Catalina de Habsburgo-Lorena
A história dramática de Isabel, imperatriz de Áustria-Hungria, contada pela sua dama de companhia, com base na correspondência que a soberana manteve com a irmã. A sua intimidade, tão diferente da imagem romântica dos filmes, é posta a descoberto: a inquietude, a relação especial com o marido e o mistério que rodeia a morte do seu filho, o arquiduque Rodolfo. Enriquecido por fotografias, este livro revela-nos uma Isabel idealista e apaixonada, mas também egocêntrica e caprichosa, com uma alma torturada.
(Esfera dos livros, 250 pp, €22)


O Que Pensam os Adolescentes, de Jellyellie
Do alto dos seus 15 anos, a autora revela toda a verdade acerca dos adolescentes. Jellyellie é descrita pelo jornal inglês The Guardian como “a voz da geração MSN” e tornou-se famosa pelo seu site na internet sobre bluejacking. Para fazer este livro, entrevistou vários amigos para descobrir o que move os adolescentes. E explica o que os jovens pensam sobre a escola, os amigos, o dinheiro, as roupas de marca, o sexo e as drogas, e todos os outros aspectos da vida de um adolescente. Jellyellie mostra o que incentiva os adolescentes a cooperar com os pais e o que desperta toda a sua rebeldia.
(Europa-América, 192 pp, €14.90)


Planear uma Gravidez, de Zita West
Para os casais que querem engravidar ou têm dificuldade em conceber. Este guia em 10 passos oferece respostas às mais variadas perguntas: Como é que alimentos podem aumentar a fertilidade? Quais as opções de fertilização in vitro que existem? De que forma é possível manter a vida sexual interessante enquanto se tenta engravidar? Baseando-se nas mais recentes investigações científicas, este livro ajudará o casal a compreender o funcionamento do corpo e a concepção. (Civilização, 192 pp, € 17.98)










Dewey – O Gato que Comoveu o Mundo, de Vicki Myron, com Bret Witter





Vicki Myron, directora da Biblioteca Pública de Spencer, no Iowa, conta-nos a história de Dewey, o gato que se torna no animal de estimação desta instituição. Mas mais do que um simples animal, Dewey torna-se, ao longo de 19 anos, um amigo de todos os funcionários distribuindo gestos de agradecimento e amor. Uma história comovente de como um simples gato pode tocar a vida humana e salvar uma cidade, que lentamente se ergueu da maior crise da sua história. (Texto Editora, 280 pp, € 15.00)