martedì

:: O Mundo a seus pés...

Tem uma beleza de gioconda: misteriosa, profunda. Em pessoa, Inés Sastre é como nas fotografias e nos filmes: belíssima, misteriosa.
Tem uma voz grave, um corpo fino. Nasceu em Valladolid, completa 35 anos em Novembro. Vive em Paris. Tem um filho de dois anos por quem está visivelmente apaixonada. É um dos rostos da Lancôme desde 1996. No cinema, começou a trabalhar com Carlos Saura aos 13 anos. Antonioni fez dela a musa de Para Além das Nuvens.É embaixadora da Unicef. Licenciou-se na Sorbonne em Literatura francesa. Fala fluentemente francês, inglês, italiano e espanhol, claro. Acedeu em ser entrevistada durante 30 minutos na limousine, em sossego. Foi extraordinariamente simpática e disponível. Riu muito. De tudo e de si própria. Fazemos a entrevista em espanhol? É-lhe mais confortável? Fala em espanhol com o seu filho?Falamos uma mistura de espanhol e francês. Tenho baby-sitters portuguesas, que lhe falam em português, e o pai fala-lhe em italiano. A língua materna é muito importante. O meu filho nasceu em França e anda na escola em França. Mas comprei uma casa em Espanha, antes do seu nascimento. Quero que o Diego tenha contacto com a sua raiz. E este Verão foi importante estar dois meses em Espanha.Porquê?Para retomar contacto com os meus amigos e com a minha própria língua, e fazer as coisas que se fazem em Espanha no Verão. Estou há 18 anos fora, vivendo entre Londres e Paris, sobretudo em Paris. O que é que sente como sendo casa?Casa é onde está a minha família mais próxima: o meu filho e eu. Em qualquer lugar do mundo. Quando faço uma pesquisa sobre si na Internet diz-se sempre que é espanhola. Porque é que se sente espanhola? O seu tipo físico é muito francês. Francês, italiano – fiz muitos filmes italianos em que fazia papel de italiana. Não me sinto exclusivamente espanhola. Sinto-me europeia. Sempre gostei do conceito de viagem, de aprender com outros. Sempre fui camaleónica, adaptável.


Sem poses de vedetismo,Inés Sastre tem necessidade de viver no mundo real.Foi educada nesse contexto?

A minha mãe educou as duas filhas de uma forma muito espanhola: sempre quis que fôssemos independentes. Em Espanha, a educação é austera, mas dá a possibilidade e a independência de questionar a vida que se tem. O melhor presente que a nossa mãe nos deu foi uma certa estrutura. Como é que a sua mãe reagiu quando, aos 13 anos, Carlos Saura a escolheu para fazer o seu primeiro filme?
Agora que sou mãe, penso novamente na sua atitude. Deu-me uma enorme liberdade e confiança. Teve de deixar a minha irmã em Espanha, com o meu pai, e foi comigo para a Costa Rica três meses. A minha mãe disse-me: “Eu não posso trabalhar por ti. Por isso, é uma decisão tua.” Era uma grande responsabilidade, posta sobre os seus ombros.Sempre fui muito precoce. Era uma menina muito responsável.A sua mãe reconhecia-a como sendo especialmente bonita?
Nunca me educaram desse modo. Havia uma absoluta ausência de vaidade física em nossa casa. E não me sentia nada bonita. Eu era muito tímida. Acho que comecei a falar quando fiz o primeiro filme.Em que pensava nesses anos silenciosos, de quase reclusão?
Num monte de coisas. Lia muitíssimo, tinha uma vida interior incrível. Este trabalho deu-me a possibilidade de comunicar com o mundo exterior.Não é fácil adivinhar o que se passa dentro de si.Através dos meus filmes, das minhas fotografias, é possível saber de mim, ainda que de um modo silencioso. A quem revela a sua vida interior?
Como todas as pessoas, tenho um círculo mais pessoal, em que me conhecem de um modo mais humano. Nem toda a gente me conhece. Mas sou muito transparente. Não gosto de mostrar o que não sou.É muito significativo que as outras mulheres a apreciem, apesar de ser um ícone de beleza.Disseram-me, quando comecei a trabalhar com a Lancôme, que há sempre que pensar que as minhas clientes são mulheres. Eu não estou aqui para roubar o marido a ninguém! [risos] Não pode ser demasiado sexy.Não. Nem sequer o sou. Iria contra a minha natureza. O meu último perfume para a Lancôme foi um projecto muito pessoal. Quis projectar a imagem de uma mulher bonita, moderna, forte, com um filho, que não seja lamechas e que seja simpática. Assumir as fracturas, as perdas, é uma coisa importante?
Não cultiva o estilo da “supermulher”… Não cultivo, não. Um amigo meu francês, que é um grande actor de teatro, disse-me que a falha, a pequena debilidade, é o mais charmoso, o que mais toca. Uma mulher perfeita?
Isso não seria interessante.Descobriu a sua timidez doentia como uma coisa tocante?
Não descobri. Fui evoluindo, fui crescendo. Posso ser muito segura de mim e outras vezes não. Fico num quase pânico! “Como é que posso fazer algo tão público, sendo tão tímida?” Tenho vontade de sair a correr. Mas ficar é também uma forma de ultrapassar a dificuldade. Existe um desfasamento entre a personagem pública e a pessoa privada?
Às vezes, dizem coisas sobre mim, não sei quê, não sei que mais, e fico incrédula: “Que é isto?
Que estão a dizer de mim?”Como se falassem de outra pessoa, uma pessoa fictícia?
Sim. Mas não posso evitar que tenham uma opinião sobre mim. Nem posso explicar ao mundo inteiro quem é que verdadeiramente sou. Porque é que sentiu necessidade de estudar na Sorbonne e depois em Oxford?
Sempre me interessou estudar. Comecei a trabalhar muito jovem, e estudar é um reposicionamento no mundo real, com gente da nossa idade, com problemáticas da nossa idade. Era importante não perder essa etapa da minha vida. Tive muita gente contra, que dizia: “Nunca mais voltas a trabalhar, as pessoas vão esquecer-se de ti!” E voltei a filmar, contra todas as expectativas! [risos] Foi difícil, naquela altura. Trabalhava em moda e cinema, ao mesmo tempo.Decidi estudar com base numa convicção pessoal profunda. Hoje sinto a mesma necessidade de me reposicionar no mundo real. Se não levar o meu filho ao colégio posso perder o sentido da realidade. Tenho de combinar duas realidades: uma um pouco fictícia e outra muito real. Como era a relação com os seus professores e colegas?
Porque não era uma simples colega...Claro que era. Eu não era tão conhecida assim. O meu primeiro contrato com a Lancôme foi em 96 e comecei a universidade em 92. Já tinha chegado ao quarto ano, e diziam-me: “Chegaste até aqui, não podes desistir!” Iam lá a casa e ajudavam-me a estudar. O mundo universitário foi para mim de uma grande solidariedade.O que mudou na sua vida com o nascimento do seu filho?
Tudo. O que estava em primeiro ou segundo plano, passou a estar em terceiro, quarto... E há certas coisas que voltamos a encontrar da nossa infância que podemos reviver com um filho.
Que recordações da sua infância revive com o seu filho?Muitíssimas. Por exemplo, sempre gostei muito de regras, que haja horários, um certo rigor. Gosto que se reze à noite, gosto de cantar para ele, gosto de ler-lhe livros.
Falemos da sua beleza: quando é que percebeu que era bonita?Quando na escola me disseram, tinha 12 anos: “Fizemos uma votação e tu és a mais bonita da turma.” Eu??? Não era de todo consciente da minha beleza. Às vezes, surpreende-me que me olhem num restaurante.Encarna a amiga, a irmã, a pessoa que tem disponibilidade para ouvir.Adoro ouvir as histórias das pessoas. Gosto de sentar-me num café e olhá-las... No final, as histórias são sempre as mesmas! São histórias de amores...Desamores! [risos] De triunfos, de derrotas. Toda a gente se engana, eu e os outros, e acho que a vida não é fácil, nessa matéria...
Não resisto a pedir-lhe que partilhe connosco alguns dos seus segredos de beleza…
Regularidade, acredito muito na regularidade. E no desporto e nos gestos básicos de beleza. Duches de água fria, cremes, hidratação, beber água.

Doce presençaA convite da Nespresso, Inés Sastre esteve em Portugal no ano passado para a abertura da nova loja da marca.

Tem uma beleza de gioconda: misteriosa, profunda. Em pessoa, Inés Sastre é como nas fotografias e nos filmes: belíssima
via Revista Máxima