martedì

:: Momentos de Glória...

Já não é a menina de Diário de Uma Princesa, apesar de nunca ter perdido aquele ar de encantamento. Cresceu demasiado em Brokeback Mountain e em O Diabo Veste Prada. De tal maneira que, ao sentar-se no jardim do Hotel Des Bains, em Veneza, para a nossa entrevista a propósito de O Casamento de Rachel, percebe-se que a ruptura com o ex-namorado Raffaello Follieri, acusado de corrupção, já faz parte de um passado distante e enterrado. Foi mesmo o trabalho que a salvou de males piores. Tem vivido verdadeiros momentos de glória em termos profissionais. O que a terá por certo ajudado a passar uma fase menos positiva na sua vida pessoal... Concorda?
Sim, tive um ano em cheio. Um ano que me transformou.Em grande parte devido ao excepcional envolvimento em O Casamento de Rachel. Conte-nos um pouco como surgiu este projecto.De facto, foi óptimo poder envolver-me neste projecto desde o início. Mas agora, como diria o Jonathan [Demme], já não nos pertence. Está aí para vocês, jornalistas, comentarem e o público apreciar.Considera que esta personagem ultra-emotiva, que sai de uma cura de desintoxicação para o casamento da irmã, poderá ser um ponto de viragem definitivo na sua carreira? Talvez lhe dê razão quando olhar para trás e perceber que possa ter sido um marco na minha carreira. Para já, sinto-me apenas orgulhosa por ter construído uma personagem que não me desaponta e na qual não me parece que pudesse ter feito melhor. Isso é algo que nem sempre me acontece.Faz isso frequentemente, quer dizer, reavalia o seu desempenho ao rever um filme?
Sim, sim, normalmente compreendo a personagem três semanas depois de terminar a rodagem [risos].Como explica o sentimento de culpa e a angústia da personagem no filme?
À partida, somos todos muito mais complexos do que qualquer filme nos possa descrever. O que me deixa mais satisfeita com este resultado é o facto de nos apercebermos de que existem neste mundo heróis escondidos que não são reconhecidos. A Kym é um deles. Ela é uma lutadora, em constante batalha consigo própria. E, nesta altura, atingiu um certo sucesso por se ter desintoxicado.Foi mais complicada a sua preparação por a câmara do Jonathan estar sempre em movimento, de modo a captar um lado mais documental da festa de casamento?
A verdade é que nunca ensaiámos uma cena. Isto porque antes, e durante aproximadamente um ano, discutimos bastante todas as motivações da personagem e o espaço dela no filme. Gradualmente, apaixonámo-nos por ela. As mulheres têm aqui uma presença muito forte, talvez mais do que os homens. É uma mulher igualmente determinada?Bom, eu conheço mulheres ferozes e homens carinhosos como poucas, apesar das mulheres serem normalmente apresentadas como seres mais ternos. No entanto, os homens da minha vida, como o meu pai, possuem corações muito sensíveis. Ao contrário de mim e da minha mãe que somos mulheres ferozes [risos]. Não me parece, contudo, que seja uma representação do sexo.Não deixa de ser curioso que o filme Noivas em Guerra também lida de perto com o tema do casamento. Teve essa percepção quando aceitou fazer esta comédia romântica com a Kate Hudson?
São filmes completamente diferentes. Até porque O Casamento de Rachel não será, a meu ver, um filme sobre o casamento. No início, nem tinha sequer esse título, chamava-se Dancing With Shiva. Quando o Jonathan me disse que o tinha mudado para o título actual é que me apercebi dessa semelhança.


Aborda-se aqui a temática da toxicodependência e da recuperação. Que tipo de pesquisa fez nessa área?

Fiz alguma, mas a verdade é que essas experiências estão muito próximas de mim, pois muitos amigos meus estão (ou estiveram) em recuperação. Levaram-me a reuniões e li vários livros sobre o assunto. Falei também com muitas famílias.Por falar em adição. Acha que é assim tão difícil resistir à adição pela fama?Sabe, nunca compreendi muito bem as pessoas que ficam viciadas pela fama. Tal como nunca senti que teria de experimentar cocaína na primeira vez que ma ofereceram. Até porque percebi que poderia ser uma coisa que não conseguiria controlar. Por isso, decidi não ir por aí. Tenho o mesmo ponto de vista em relação à fama. Não é algo que alguma vez tivesse ansiado. Preocupo-me em ser actriz. Bem sei que a fama lhe vem associada. Por exemplo, estive a noite passada numa apresentação do filme e desfilei na passadeira vermelha com um vestido lindíssimo. Gostei, mas não é por isso que estou aqui. E porque é que está aqui?
Porque quis ser actriz?
Porque gosto de contar histórias e de criar mundos imaginários. Não compreendi isso logo no início, achei que era apenas uma forma de usar a imaginação. Com o tempo percebi o fascínio de contar histórias. No filme fuma bastante. Isso afectou-a de alguma forma?
Agora que fala nisso, foi, por acaso, um bocado difícil deixar. Acho que posso dizer que fiquei viciada em tabaco quando estava a fazer este filme. Neste como em outros filmes, percebe-se que a Anne encara a alimentação com alguma naturalidade e não com o pudor da nova beleza dos corpos magros. Aliás, o seu corpo esguio reflecte isso mesmo.
Como é, come de tudo?
Obrigado pelo elogio. É verdade que não como coisas que me possam fazer sentir mal. Até porque tenho alguns problemas com lacticínios, fritos, açúcar e álcool em excesso. Tudo o resto eu como, e como bem [risos].
Qual é a sua ideia sobre esses corpos esguios e magros?
Já não tenho 13 anos, já passei essa fase, por isso não quero saber. Estou num período bastante positivo na minha vida, em que não me quero sentir mal comigo própria. Acho que ninguém tem nada a ver com o meu corpo. Se fosse uma bailarina talvez me preocupasse.Curiosamente, apareceu também recentemente ligada à moda no documentário Valentino, The Last Emperor...
É verdade [risos]. Ainda não o vi. Estou bem? O Valentino Garavani é fantástico, bem como as pessoas que o rodeiam. É uma espécie de grande família.
Interessa-lhe o mundo da moda?
Depois de O Diabo Veste Prada, agora Valentino. Isto sem falar no perfume da Lancôme (Magnifique) que lançou?
O mundo da moda? Não é algo que me desinteresse, mas também não sou uma fashion victim. Gosto de ir a desfiles de moda, mas não considero que seja uma espécie de rotina. Quanto ao Magnifique, adoro essa fragrância. Para além da moda também se interessa pela política.Os meus interesses são variados. Mas, se quer saber, interessa-me muito mais a política do que a moda. Sou democrata assumida e participo em algumas convenções políticas. Com­preendo a resistência que muitos actores têm em não se envolver poli­ti­­camente. Todos temos direito à nossa opinião e ponto de vista. Como vê a situação política actual na América?
Gosto de ter esperança. Tem sido difícil ser democrata na América nos últimos anos. Foi difícil manter a esperança.Em criança também era assim energética e empenhada em tudo o que fazia?
Acho que a minha mãe lhe saberia responder melhor. Mas era demasiado petulante para ser simpática. Vivia no meu mundo, a sonhar. E a realidade não fazia parte desse mundo. Acho que foi assim que passei a minha infância.Esta foi, além de Brokeback Mountain, a maior interpretação da sua carreira. E com um certo perfume de Óscar. Nunca tive a experiência de ser nomeada para um prémio destes. Claro que é excitante ser nomeada para um Óscar, mas a minha vida não sofre por isso.
Combateu a adversidade amorosa com trabalho e a recompensa foi coroada de sucesso. Para Anne Hathaway, depois da nomeação para os Globos de Ouro, foi a do Óscar para o cativante drama familiar O Casamento de Rachel, na melhor interpretação de sempre. Surge ainda em Noivas em Guerra, onde seduz numa ligeira comédia romântica.
Via Revista Máxima