lunedì

:: Como Nasce um Bailarino...














O gosto pela música e o movimento, primeiro. Depois vem o treino.
Na Escola de Dança do Conservatório Nacional, a carga horária é
pesada, mas elas não baixam os braços. São crianças “especiais”
à procura da profissionalização artística. Por Júlia Serrão
Fotografia de Pedro Loop

Gosto, gosto muito de dançar. Então quando há um exercício de
que eu gosto mais, fico a imaginá-lo nos três dias seguintes.
Ou quando faço outro de extrema dificuldade e percebo que superei
mais um desafio… é quase excitante! É claro que quando treino a
variação para o concurso já não penso na técnica, sou a personagem
que a bailarina representa. E isso pode ser muito divertido.”
O rosto de Fernanda Silva, de 17 anos, anima-se quando fala de dança.
É uma paixão, sem dúvida. Mas de muita perseverança, trabalho
e dedicação têm sido feitos os dias desta finalista do Conservatório
de Lisboa. Em anos foram sete, pois entrou directamente para o
segundo ano da escola de formação de bailarinos. A sugestão de
se candidatar fora-lhe lançada por uma professora que a vinha
a acompanhar numa escola de música e bailado que frequentava
desde os cinco anos de idade e que lhe reconhecera “jeito” para
a arte do movimento. “Pensei ‘e porque não?’, já que gosto tanto
de dançar”, diz, explicando que o desejo de tornar-se bailarina
profissional surge, no entanto, logo no final desse primeiro ano.
“Por essa altura já estava convencida que era isso que queria.
Mas, obviamente, há sempre indecisões pelo meio”, esclarece.
Se com uns alunos é a carga horária e a disciplina, o sentindo
de renúncia a alguns prazeres que os leva a recuar, se não a
desistir, pelo menos a questionar a vocação, com Fernanda Silva
a dúvida nasceu sempre “do medo de não ser suficientemente boa”.
Houve alturas em que não gostava da imagem que os espelhos
(que forram as paredes dos estúdios onde decorrem as práticas)
lhe devolviam, garante, esclarecendo de forma peremptória:
“Sou perfeccionista, tenho um grau de exigência para comigo
muito elevado. Para ser mais ou menos não me interessa.”
Ao longo dos anos de formação na Escola de Dança do
Conservatório Nacional de Lisboa, a jovem de 17 anos passou
as várias selecções. Trabalha sempre com profundo empenho,
para resultados de excepção. “Considero-me empenhada
naquilo que faço e, por isso, não trabalho só aquilo que preciso.
” Porque selectiva, o número de alunos da Escola é sempre
reduzido.
Segundo José Luís Vieira, director do Conselho Executivo,
este ano são apenas 140 alunos distribuídos por todos os anos,
isto é, do 5.º ao 12.º de escolaridade, do 1.º ao 8.º de dança.
Anualmente também saem poucos formados. “Somos uma
escola artística e, portanto, uma escola selectiva em que a
formação é feita em pirâmide. Há várias selec- ções”, explica.
Há a selecção natural e a do físico, que se altera. Há a selecção
da criança que cresce e pode deixar de gostar da dança, embora
seja raro acontecer. Há a selecção quando o talento não se revela
da forma que se esperaria e há a selecção da qualidade.
Na passagem do 9.º para o 10.º – 5.º para o 6.º de dança –,a triagem
é rigorosa. “Não basta ter uma audição positiva. Pelo menos numa
das áreas, dança contemporânea ou dança clássica, o aluno tem
de ter uma avaliação acima da média”, explica José Luís Vieira.
“Não queremos formar artistas suficientes porque os artistas,
por definição, acho que não devem ser suficientes”, esclarece.
Fernanda Silva, finalista, sonha já com uma experiência
no estrangeiro. Em cima, aula prática de clássica. No final de
cada ano, o número de finalistas situa-se entre os 11 e os 12 alunos,
o que, diz, “não é mau, em termos de mercado de trabalho”, tanto
nacional como internacional. Quem sai, sai apto para qualquer
experiência, em Portugal ou no estrangeiro. Muitos alunos formados
nos últimos anos na Escola estão agora na Holanda, na Alemanha
e na Rússia. “Alguns arranjam trabalho em companhias
internacionais.
Outros fazem mais um ano de formação em escolas de projecção
mundial, pois acham que é bom em termos de currículo e de
experiência.” Mas também há “vários solistas e principais” na
Companhia Nacional de Bailado e na Companhia Portuguesa de
Bailado Contemporâneo. Os restantes estão em pequenos grupos e
companhias de dança e em corpos de baile de programas de televisão.
Em termos artísticos, o aluno que sai do Conservatório está preparado
para se submeter “a audições, entrar numa carreira profissional,
mas como teve a vantagem de acabar o 12.º ano de escolaridade,
está igualmente preparado para fazer um curso superior”, observa
José Luís Vieira. Quando optam pelo último, normalmente a escolha
recai sobre a Escola Superior de Dança. E os alunos do Conservatório
são seguramente “preferenciais, no sentido de estarem preparados”.
A meio de Novembro, Fernanda Silva faz projectos para um futuro
próximo. No final do ano lectivo termina o Conservatório e vai fazer
um curso de duas semanas na Escola Superior de Dança. “É mais
pela experiência e pelas aulas que temos de informação”, comenta.
Depois, “gostava de fazer dois anos de dança na Escola de Munique,
na Alemanha”, diz, admitindo igual prazer pela dança clássica e
contemporânea. A aula prática de dança clássica no estúdio 7 do
Conservatório de Lisboa desenha-se dura para quem assiste de fora
naquela manhã, não para o grupo das oito alunas. “É sempre assim”,
dirá mais tarde num sorriso aberto e descontraído uma delas: Joana
Romaneiro, de 13 anos, aluna do 5.º ano de dança. Ao longo dos minutos
que se seguem é-lhes pedido “concentração, controlo da mente”, cada
vez que o músico pára de tocar o piano, a um sinal da mestra.
Atrás, Joana Romaneiro, durante uma aula prática de clássica.
Joana Romaneiro destaca-se do grupo. É fácil imaginá-la bailarina de
clássico, talvez seja a sua silhueta alta e magra, o seu jeito de cisne.
Ela, por enquanto, diz que quer ser apenas bailarina profissional.
"Gostava de poder exercer a dança profissionalmente numa companhia
fora do país mas também em Portugal.
Penso que são duas vivências diferentes, mas
ambas muito importantes para o meu percurso”, diz. É para isso que vem trabalhando. Sem referências na dança, aos três anos apaixona-se pelo ballet. “Via as meninas mais crescidas da minha escola dançar e também quis experimentar.” A família reconhece-lhe vocação, mas também a professora,
que lhe sugere o concurso para o Conservatório. “É preciso que as crianças
sintam algum direccionamento no sentido do gosto pela música, pelo
movimento, mas nestas idades isso é sempre descoberto ou evidenciado
pelos pais”, explica José Luís Vieira.
Entrada com critério
• O ingresso na Escola de Dança do Conservatório Nacional é feito por
audição, a qual é publicada no jornal, conforme o previsto na Lei • Qualquer aluno pode concorrer para um dos anos compreendidos pela escola, sendo a audição aferida ao nível do mesmo A viver em Sintra, os dias de semana de
Joana Romaneiro começam invariavelmente às 5.45 da manhã. Entra às
8.30 na Escola de Dança, de onde sai umas vezes às 19.30, outras às 20 horas.
A participação no Dance Arte, um concurso internacional de dança, ilumina
o seu ainda pequeno currículo. E ilumina-lhe o rosto. “Obtive uma boa classificação”, comenta. Como a maioria destes meninos e jovens, não lhe
resta tempo para brincar, ir a festas de aniversário, fazer amigos fora da
Escola. Tem sobretudo os que fez durante a infância. “Quando posso estar com eles, estou. Mas também gosto de ficar em casa a ler, ou ir ao cinema ou ao teatro”, acrescenta. “Às vezes passamos 12 horas a treinar na escola – depois de chegar
a casa quem lhe apetece sair?”, observa Fernanda Silva, a este mesmo propósito. “Sabe bem é ficar na cama ou sentada no sofá a ler um livro ou ver um filme, e descansar”, explica, esclarecendo que estas pequenas coisas são o que mais
gosta de fazer nos seus tempos livres. “Além de ir ao teatro, correr e passear
com os meus cães.” O director do Conselho Executivo do Conservatório
reconhece que a vida destes miúdos não é fácil, mas confirma que também não podia ser de outra forma. “Têm uma carga horária muito pesada pelo menos até ao 9.º ano de escolaridade, pois têm todas as disciplinas de formação geral e mais toda a carga artística”, esclarece. Para além do exercício físico, têm vários tipos de dança, a histórica e as tradicionais, o sapateado e a dança de carácter, a dança clássica e a contemporânea. Os alunos chegam ao edifício da zona do Bairro Alto de manhã e saem à noite. Mas, segundo José Luís Vieira, também tem uma grande vantagem em termos vocacionais que é a de não terem necessidade de actividades extracurriculares.
Uma escola artística
Com algumas especificidades:• Tem uma grande dose de subjectividade na parte da avaliação. “Temos legislação própria que nos dá legitimidade para isso, mas precisávamos de uma legislação ainda mais específica”, diz José Luís Vieira • Os professores (artistas) “têm currículos diferentes” dos de formação geral, “pelo que não podem ser contratados ao abrigo das mesmas leis” • As disciplinas de dança são feitas por sexo porque a técnica é diferente, o que o Ministério pôs em causa • Cada turma tem um professor e um acompanhante ao vivo (um músico), algo que não está contemplado, pois a legislação só prevê um docente Quanto às exigências relativamen- te ao treino e à disciplina, “para estes alunos é uma escolha que fizeram. Logo, o peso desta carga horária é tido como natural.
Entram direccionadas na escola, são crianças especiais”. Se houve tempo
em que os pais questionavam a escolha dos filhos por este tipo de ensino, ao que parece hoje isso não acontece. São mais os pais que querem que os filhos sejam bailarinos sem que eles tenham a certeza se é mesmo isso que querem do que o contrário, garante o director. A procura do Conservatório tem-se mantido estável nos últimos anos. A alteração situa-se ao nível da distribuição de alunos por sexo. José Luís Vieira diz que nos últimos dois, três anos, têm tido menos rapazes do que gostariam. Curiosamente, “depois de uma época, durante muitos anos, em que tivemos muitos rapazes, e que nos trouxe vantagens mesmo ao nível das escolas internacionais”, explica, sublinhan- do que Espanha, Holanda e França, por exemplo, têm imensas dificuldades em ter rapazes nos Conservatórios.
João Silva, de 11 anos, está no 2.º ano de dança, mas este é o seu primeiro ano no Conservatório de Lisboa – entrou com o período lectivo em curso. Natural do Porto, foi aí que muito cedo sentiu a atracção pelo movimento. “Estava sempre
a dançar, quando estava parado ou a brincar. Dançava em todo o lado”, explica, enquanto afasta uma gota de suor da testa. Saiu da aula prática de dança clássica onde a sua silhueta, perfeita, e a sua postura, quase altiva, deram nas vistas. Quanto à técnica, pelo menos não recebeu nenhum reparo da professora, que assegura que ali “é como na tropa”. Apesar da vocação ter despertado muito cedo, e da mãe ter feito planos para que ingressasse numa Academia de Dança da cidade do Norte, ele atrasou esse momento até aos oito anos. “Só havia raparigas, nenhum rapaz, e eu tinha vergonha”, explica. Mas a partir daí, o treino passou a ser contínuo e especializado. Já conhece Lisboa, há tanta coisa nova a descobrir. E já fez amigos na Escola de Dança. “Sobretudo na aula de clássico”, explica, lembrando que não lhe resta muito tempo diariamente para brincar. À noite,
em casa, só há tempo “para fazer os deveres e jantar antes de ir dormir”. Às vezes, está cansado, “o corpo dói”, mas não tem dúvidas: “Sei que tudo o que faço aqui
é necessário para ser um bailarino profissional, e é isso que eu quero ser. Gostava de ser como o Telmo Moreira [um aluno do Conservatório classificado entre os seis laureados na final do concurso Prix de Lausanne]. Também ganhar prémios e ir estudar para uma escola no estrangeiro.” Ao contrário de Fernanda Silva e de Joana Romaneiro, a formação artística de João Silva ainda vai no princípio. O que não o impede de se revelar um talento precoce. Afinal, já nasceram tantos neste mesmo Conservatório.
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