lunedì

:: Associação Novo Futuro - Isabel Guerra...





Há quase seis anos que Isabel Guerra preside à associação Novo Futuro. Conduz esta organização e os seus seis lares com o olhar prático de uma gestora, o coração de uma mãe e uma disposição invejável.


A vida dos irmãos Pedro, Paulo e Manuel*, de 14, 15 e 16 anos, mudou do dia para a noite. Ficaram órfãos de mãe e passaram a viver com o padrasto. Negligenciados por este, acabaram por ficar na rua, sem ter onde viver. Quando foram para a Novo Futuro eram agressivos, não respeitavam regras e apresentavam hábitos de delinquência. No lar onde passaram a viver chegou-se mesmo a recear pela integridade dos mais pequenos e a pensar que a integração dos três irmãos não seria possível. Este não foi um trabalho fácil. O caso destes três rapazes é um entre tantos que cruzam os corredores dos tribunais de menores e terminam em instituições de apoio. Mas mesmo para estas histórias é possível um final feliz. E a Novo Futuro conseguiu encontrá-lo. Equipa técnica, funcionários, padrinhos e amigos da casa para onde foram empenharam-se à exaustão. Hoje, Pedro, Paulo e Manuel estão plenamente integrados. Sentem a casa como sendo deles também, são educados e carinhosos. “Estes resultados devem-se à qualidade do trabalho das equipas envolvidas, mas também ao carinho, ao afecto, à compaixão e ao amor universal destas pessoas. Esta capacidade de amar é indispensável a quem trabalha neste tipo de instituições”, sublinha Isabel Guerra.Nada parece complicado para esta mãe de quatro filhos, “já todos mais ou menos encaminhados”. Dificilmente a ouvimos queixar-se da falta de dinheiro ou dos entraves políticos ou legais com que este tipo de organização invariavelmente se esbarra. Mas quando qualquer coisa afecta alguma das crianças e jovens da instituição tudo muda.
Isabel Guerra não é uma mulher de meias medidas, deixa-se envolver por completo.A sua área de eleição é a das Ciências da Educação.
Chegou mesmo a ter o seu próprio colégio. Deixou a carreira para acompanhar
os filhos mas canalizou boa parte da sua energia para a sociedade civil.
Esteve na política, como fundadora e dirigente da juventude centrista, e, mais tarde, fundadora do partido da Nova Democracia. E está envolvida com outra instituição, o projecto Família Global, que abarca idosos, mães solteiras e famílias, e cujo trabalho de apoio é feito no terreno. Ali, tem uma intervenção mais discreta e pontual. O contacto com a Novo Futuro surgiu por ocasião do lançamento da associação. Fez-se logo sócia. E, em 2002, foi desafiada a assumir a presidência da direcção. Ao iniciar as suas funções tinha como meta criar uma equipa técnica forte, competente e eficaz. “A equipa técnica é sempre a espinha dorsal de uma instituição como esta”, sublinha. E acrescenta: “Hoje, contamos com um grupo mais completo e extremamente capaz. São três técnicos superiores de Serviço Social, quatro psicólogos, sete educadores sociais e os auxiliares de acção educativa.”


Retrato da instituição A Novo Futuro é uma Instituição Particular de Solidariedade Social O Estado dá 40 por cento das verbas de que necessita; o restante é suportado por mecenas O BES é actualmente o seu patrocinador mais forte São angariados fundos também com iniciativas como o Rastrillo e a venda de postais de Natal Contam com donativos e participações individuais como a dos padrinhos benfeitores, que doam 750 euros por ano para apoiar as crianças Todas as casas contam com uma dupla de voluntários – um homem e uma mulher – que funcionam como figuras de referência de afecto. Levam os rapazes ao futebol, ensinam as raparigas, transmitem valores, ajudam na formaçãoIsabel Guerra gosta de acompanhar de perto o trabalho destes profissionais e faz também visitas regulares aos lares. “Costumo ir jantar com os jovens. Eles precisam e gostam de falar, de conversar. É sempre importante sentirem que a presidente da direcção está lá. Isso é essencial”, afirma.A Novo Futuro tem origem em Espanha, onde funciona há cerca de 40 anos. Baseia-se no acolhimento com contornos familiares, já que as suas casas abrigam em média oito crianças. “O próprio Estado espanhol valoriza-a muito”, observa a presidente. O projecto chegou a Portugal há 10 anos pelas mãos de Teresa Mathias, mulher do embaixador de Portugal em Espanha na altura, e foi impulsionado pela então primeira-dama, Maria de Jesus Barroso. Portugal conta com seis casas da Novo Futuro, situadas nos conce-lhos de Lisboa, Sintra, Gaia e Cas-cais. Ali vivem 55 crianças e jovens entre os sete e 21 anos. Nesta organização os irmãos nunca são separados. “Por vezes é o único vínculo afectivo que lhes fica”, esclarece Isabel Guerra.As casas não têm letreiros que as identifiquem como instituições de acolhimento, o que ajuda a que as crianças tenham um desenvolvimento saudável, sem estigmas. Crianças e jovens frequentam as escolas dos bairros onde moram e desenvolvem actividades extracurriculares. “Cada um tem direito de escolher uma. Há inclusivamente uma rapariga que frequenta o Conservatório, onde aprende violeta (instrumento de corda).” As probabilidades de ficarem na instituição até à vida activa são muitas. “Defendemos que aos 18 anos são maiores de idade mas não estão prontos para a vida activa, como os nossos filhos também não estão”, explica. Estes jovens ingressam em cursos té-cnico-profissionais ou mesmo na universidade e quando terminam a escolaridade recebem apoio durante algum tempo. “Ajudamos a procurar a primeira casa – em geral um quarto ou alojamento – e contribuímos com as primeiras despesas. Depois, como em qualquer família, eles estão em contacto connosco. Há uma relação que se mantém”, explica.A nova meta de Isabel Guerra é criar residências para estes jovens que estão em autonomia. “Se tiverem apoio numa residência vocacionada para eles será muito melhor do que andarem por aí”, confessa.A experiência na Novo Futuro tem sido “uma aprendizagem importante e forte” para Isabel Guerra. “Tenho aprendido que com amor e compaixão faz-se maravilhas. Infelizmente também tenho tido frustrações porque não conseguimos alcançar o sucesso com todos. Temos uma percentagem de insucesso muito pequena, perto dos 12 por cento. Quando vejo um menino de 13 anos ir para um colégio de reinserção social, que no fundo é uma prisão para jovens, fico muito frustrada”, desabafa.Um jovem adolescente enfrenta uma situação destas quando comete um delito. E isso já aconteceu durante a sua gestão. “Mesmo assim, podemos encontrar um aspecto positivo, que é a referência que a associação deixa para estes jovens.” Neste momento diz-se indignada com a aprovação do decreto-lei que regula o ensino especial. “Vai prejudicar centenas de crianças que têm dificuldades cognitivas, e, entre elas, um dos jovens acolhidos na Novo Futuro.” Refere-se a um rapaz de 13 anos que até agora frequentava o ensino regular e com esta idade ainda não conseguia ler. Conseguiram quem patrocinasse a sua frequência num colégio privado de ensino especial durante este ano lectivo. “Já se nota uma evolução, mas será que para o ano vamos ter um patrocinador? Como é que um jovem institucionalizado ou carenciado pode alcançar um real desenvolvimento se o Estado não subsidia a sua frequência num estabelecimento especializado? Até hoje não vi nenhum governo a preocupar-se verdadeiramente com os superiores interesses das crianças.”*Os nomes foram alterados para proteger a identidade dos jovens